Mons. de Ségur
Livro de 1884 - 103 págs
“... Existe uma idade em que o menino tem necessidade de saber que
além da autoridade paterna, existe um poder mais Augusto, que é a sanção de
toda a autoridade e de toda a obediência: então se lhe diz o nome de Deus. É
coisa extraordinária! Esta inteligência, apenas esboçada, escuta esta palavra
sagrada com uma emoção encantadora. O menino busca Deus em suas obras e o que a
razão plenamente desenvolvida não pode abranger, adivinha-o esse tenro
espírito; e a partir desse momento a educação encontra um princípio poderoso
para dirigir uma natureza rebelde, para combater inclinações ingratas e também
para impor deveres difíceis e inspirar formosas virtudes nascentes.
A religião contém pois, o
princípio enérgico e saudável da educação...
A sociedade salva-se ou
perece conforme a uma lei severa ou condescendente que se dá às almas, aos
espíritos, às opiniões e aos costumes.
O mesmo sucede nas famílias:
se buscamos a causa de sua decadência e de sua ruína, em geral, encontramo-la
na educação dada aos filhos. Se o criamos com mimos e moleza, criamo-los para a
decadência. A educação, a poder de refinamento e de luxo, tira às almas e aos
carácteres sua virilidade e energia: corrompem-nos pelas delícias e prazeres e,
então, quando chega a hora do trabalho, da preocupação do porvir, o homem que
tem sido criado no meio de comodidades sempre asseguradas e, já seja por uma
covardia desesperada, já por uma cega temeridade, gasta sua fortuna e chega à
abjeção.
A educação moderna, assim
considerada, é quase sempre desastrosa: criam-se os meninos com luxo e
comodidades; e com o pretexto de fazer amar os estudos rodeando-os de
esplendor, tem-se feito crer aos discípulos que sua vida estava destinada à
mesma cultura e elegância e às mesmas vocações. Quanto descontentamento tem-se
incutido nas almas, quantas naturezas se têm envenenado e a quantas existências
se têm enganado, dando equívoca direção às suas legítimas aspirações, trocada
por ilusões irrealizáveis...
A educação tem se tornado
sensualista: descuida dos espíritos e se ocupa dos sentidos, do corpo...
O sistema atual de cultura
vicia e neutraliza a semente em seu gérmen e só produz o solo frutos inúteis e
perigosos. Tudo, com efeito, no ensino de nossas escolas sacrifica-se às
satisfações do corpo e do entendimento; nada ou quase nada se tem reservado
para o desenvolvimento das faculdades da alma, das qualidades do caráter e o
coração... sem a
educação, a instrução nada mais é que um instrumento de ruína...
A perversão da juventude é um
dos fatos mais dolorosos e aflitivos de nossa época...
O homem será o que o fizerem
em seus primeiros anos. Aos doze já está formado e seguirá a direção que se lhe
haja proposto...
O menino que se crê visto por
Deus, seguido por Deus, castigado por Deus, portar-se-á de um modo
completamente distinto do que só se esforçar por subtrair-se a um olho humano,
que não o vêm todas as partes, que não o segue aonde quer que vá....
Pais de família, cuidai mui
seriamente da educação que procurais para vossos filhos; disso dependerá a
felicidade e o porvir da juventude, e por conseguinte, da sociedade...”
Excertos retirados do livro