Pe. Antonio D'Almeida Morais Júnior
Edição de 1947 - 125 págs
O Homem e Liberdade
É o homem um ente extraordinário. Não é
simplesmente matéria, porque a matéria lhe repugna, na sua contínua inércia, na
sua limitação espacial, no seu passivismo, na sua necessidade. Não é
simplesmente matéria, porque, se a matéria apela para o marasmo, a
tranquilidade necessitante, ele traz em si a inquietude que o dinamiza. Se a matéria
se limita na extensão, na ubilocação extensiva, ele sente em si um surto que se
desprende dos limites, que não se enquadra nas linhas intransponíveis de uma
situação contingente. Se a matéria se satisfaz numa exigência puramente finita,
na realização de tendências puramente mecânicas, ele traz consigo a
insatisfação continua, o desejo que cresce com a insaciabilidade das
aspirações, que não descansa nos seus voos e que, de desilusão em desilusão,
como o voo desprendido de sonho em sonho, tem horror à forma e às necessidades
limitativas da matéria. Ele é também matéria. Mas matéria unida à luz! E tudo o
que nele foge da acidentalidade e do limite está nessa luz, nesse clarão
permanente, nesse espírito que nós chamamos a alma. Eis o homem! A matéria que sobe
e a cintila do céu que desce, o resumo do mundo material que se encerra no seu
corpo e o espírito que é a sua alma.