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30 dezembro, 2015

A Supressão da Companhia de Jesus

J. B. Hafkemeyer, S.J.
Livro de 1914 - 163 págs

Não conheço a Companhia de Jesus senão por seus inimigos — mas pela violência com que a atacam, concluo que deve ter algo de grande.”
Lavater



PREFÁCIO

A história da Companhia de Jesus é escassamente estudada no Brasil. Para a maior parte do nosso povo, foi uma Ordem poderosíssima, mas de conduta tão irregular que um Papa se viu obrigado a suprimi-la.

Quanto à análise e demonstração dessa irregular conduta, manifestam-se diversas opiniões; assim, uns entendem que ela cometteu crimes nefandos e vergonhosos, porque o leram em mais dum livro; já outros se contentam com a sentença decretada, há mais dum século, contra a Companhia, pelo Chefe Supremo da Igreja Católica, a pedido instante das cortes católicas da Europa.
Esta verdade está tão enraizada no espírito popular que se nos afigura bem difícil arrancá-la. A lenda criada e espalhada por Pombal, o venerado ídolo para quem o dicionário é escasso em adjetivações encomiásticas, pegou admiravelmente bem. «Uma das maiores glórias portuguesas», «gênio perspicaz», «filósofo profundo e hábil político», «um dos maiores vultos do século», são pequenos louvores; tudo que fez é grande, e a destruição da Companhia talvez a sua maior façanha.
Alguns históriadores imitaram o grande marquês e o grande ódio que teve à Ordem. Assim, um dos de maior fama, na sua «História geral do Brasil» acha muito que censurar aos jesuítas, dispensando-lhes, para não parecer parcial, uns louvores que são antes censuras. O Visconde de São Leopoldo aferra-se às obras de Pombal e não passa daí. S. Varnhagen nas notas da sua «História Geral do Brasil», ajunta outras fontes, como diários e as importantíssimas atas de Simancas, nos seus resultados não passa das obras de Pombal. Não sabemos porque antes Varnhagen soube achar, especialmente nas atas de Simancas, a condenação dos jesuítas, pois de fato contêm a refutação mais brilhante de todas as acusações levantadas por Pombal e repetidas por Varnhagen.
Não falamos de algumas contribuições para a história dos jesuítas como os Apontamentos, de Henrique Leal[1], porque são destituídos de qualquer valor histórico; nem do Ensaio sobre os jesuítas, do cônego Joaquim Fernandes Pinheiro[2].
Depois dos trabalhos de um Capistrano de Abreu, J. Manuel de Oliveira Lima e Eduardo Prado, aqueles ensaios são antigualhas de piedosa memória. Os nossos melhores historiadores formaram um juízo muito diverso dos jesuítas, ainda que só de passagem e por ocasião falem da Companhia.
Conhecemos apenas uma pequena obra sobre a Companhia de Jesus, com o título Os jesuítas perante a história, por Ovídio da Gama Lobo. Foi publicada em 1860 no Maranhão e hoje existirão dela poucos exemplares. O seu autor dá um resumo de toda a história da Ordem, tratando mais in extenso da supressão.
Descreve os acontecimentos com grande fidelidade, mas a forma reduzida obriga-o a contentar-se com uns traços gerais que são insuficientes para propor ao leitor esta trama mais fina da história universal , como um dos melhores conhecedores da Ordem chama à supressão. O leitor incrédulo sacudirá a cabeça e talvez repita o dito conhecido: «a história é uma grande tola ou foram grandes tolos que no-la transmitiram».
Esforçamo-nos por reconstituir toda esta trama, apoiando sempre as nossas afirmações em fontes que não podem ser recusadas.
Damos mais de uma vez a palavra aos principais atores de toda a tragédia, aos ministros dos países borbônicos e às suas cartas confidenciais, em que depondo, o manto oficial de um patriotismo fingido, falavam do coração e da má vontade que nutriam.
O quadro é bem escuro; aliviam-no um pouco o heroísmo com que a poderosa Ordem sofreu a crueldade dos inimigos, e as virtudes apostólicas que opô aos representantes rancorosos do poder.
Apesar disso, o filho da Companhia achava-se digno da festa da mãe. Nunca ela se mostrou mais digna do seu fundador do que na sua supressão. Jamais se refutaram com maior evidência tantas acusações contra a Companhia de Jesus como no espaço de tempo 1773-1814. Os governos seculares apoderaram-se de tudo o que a Ordem possuia. Confiscaram-lhe, não só os bens materiais, como também, na Espanha e em Portugal, levaram a crueldade a ponto de roubar aos padres os escritos que cada um possuia, pondo todo o cuidado em que o padre não levasse para o seu desterro senão o breviário e uma mesquinha trouxa de roupa. Se houve crimes na antiga Companhia, deviam achar mais do que vestígios nestas confiscações realizadas por inimigos empenhados em justificar o seu próprio proceder. De mais a mais, tinham os perseguidores prometido as provas das suas acusações contra os religiosos. Nunca cumpriram a sua promessa, nem em Portugal, nem na Espanha. Pelo contrário, os clamores contra os perseguidores cresceram tanto que o Papa Pio VII reconstituiu a Companhia de Jesus sobre as mesmas leis que tinham regido a Companhia antiga.

Pelotas, 7 de agosto de 1913. 
O AUTOR

 ~ * ~

ÍNDICE

PREFÁCIO
CAPÍTULO I. AS CAUSAS GERAIS
Os tempos modernos — As ciências empíricas — A maçonaria  A Academia de Potsdam — Voltaire — Pombal

CAPÍTULO II. PORTUGAL
D. João V — D. José I — Pombal ministro  Começa a perseguir a Ordem — Escaramuças — Má vontade  O visitador da Companhia de Jesus — O seu mandamento  A Relação abreviada — O regicídio — P. Malagrida  Provas das acusações faltam de todo — A expulsão e a sua execução

CAPÍTULO III. FRANÇA
A obra de Luis XIV — Pompadour e Choiseul — As finanças  Damiens — P. Lavalette — O parlamento de Marselha  A injustiça da sentença — O parlamento de Paris  Os jesuítas coligam-se com os filósofos e o parlamento  A condenação das Constituições — A expulsão  A defesa dos proscritos — Acham asilo na Espanha

CAPÍTULO IV. ESPANHA
A relação de Schlosser — O mistério da iniquidade   motim de Madri  Plano dos inimigos — Arranjos  As cartas falsificadas  Atrás dos bastidores — A expulsão  As missões guaraníticas — Bucarelli

CAPÍTULO V. COALIÇÃO
Proposta de Pombal às cortes de Espanha e França — Alvitres  A Espanha consente — A França entra na coalição  Pombal trabalha em Roma — A eleição do novo Papa  Cabalas e esperanças — A promessa do Papa e Pombal  Entra Monino em cena — Relutâncias do Papa — Pombal ajuda  Vitórias e gorgetas

CAPÍTULO VI. A ÁUSTRIA
Maria Teresa e os jesuítas — A imperatriz não quer proceder contra a Ordem Pede provas das acusações bourbônicas — Promete sujeitar-se à ordem do Papa, mas não fará nada contra os jesuítas — Estima os Padres antes e depois da supressão — Testemunho do cardeal Migazzi
CAPÍTULO VII. DEPOIS DA SUPRESSÃO
A obediência dos jesuítas — O «castigo exemplar» do Geral da Ordem  As cortes da Rússia e da Prússia — A corte de Espanha  Um infante espanhol — Pio VI e Pio VII — O7 de Agosto de 1914


__________

[1] Revista do Instituto Histórico Brasileiro v. 34 (1871) e 36 (1873).
[2] C. f. «Vozes de Petrópolis». 1912. p. 777 ss.

__________
OBS.: Agradeço, de forma muito especial, todas as formas de colaboração dos leitores para disponibilizarmos, cada vez mais, excelentes obras, ajudando assim o apostolado e as almas. Que Nossa Senhora, da forma que Lhe é peculiar, também os auxilie a todos muito e sempre!

2 comentários:

Enoch Gomes disse...

não conseguir baixar o arquivo

CrisTan disse...

Salve Maria, Enoch!

O link foi retificado,

Saudações!

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