J. B. Hafkemeyer, S.J.
Livro de 1914 - 163 págs
Não conheço a Companhia de Jesus senão por seus inimigos — mas pela violência com que a atacam, concluo que deve ter algo de grande.”
Não conheço a Companhia de Jesus senão por seus inimigos — mas pela violência com que a atacam, concluo que deve ter algo de grande.”
Lavater
PREFÁCIO
A história da Companhia de Jesus é escassamente
estudada no Brasil. Para a maior parte do nosso povo, foi uma Ordem
poderosíssima, mas de conduta tão irregular que um Papa se viu obrigado a
suprimi-la.
Quanto à análise e demonstração dessa irregular
conduta, manifestam-se diversas opiniões; assim, uns entendem que ela cometteu
crimes nefandos e vergonhosos, porque o leram em mais dum livro; já outros se
contentam com a sentença decretada, há mais dum século, contra a Companhia,
pelo Chefe Supremo da Igreja Católica, a pedido instante das cortes católicas
da Europa.
Esta verdade está tão enraizada no espírito popular
que se nos afigura bem difícil arrancá-la. A lenda criada e espalhada por
Pombal, o venerado ídolo para quem o dicionário é escasso em adjetivações
encomiásticas, pegou admiravelmente bem. «Uma das maiores glórias portuguesas»,
«gênio perspicaz», «filósofo profundo e hábil político», «um dos maiores vultos
do século», são pequenos louvores; tudo que fez é grande, e a destruição da
Companhia talvez a sua maior façanha.
Alguns históriadores imitaram o grande marquês e o
grande ódio que teve à Ordem. Assim, um dos de maior fama, na sua «História
geral do Brasil» acha muito que censurar aos jesuítas, dispensando-lhes, para
não parecer parcial, uns louvores que são antes censuras. O Visconde de São
Leopoldo aferra-se às obras de Pombal e não passa daí. S. Varnhagen nas notas
da sua «História Geral do Brasil», ajunta outras fontes, como diários e as
importantíssimas atas de Simancas, nos seus resultados não passa das obras de
Pombal. Não sabemos porque antes Varnhagen soube achar, especialmente nas atas
de Simancas, a condenação dos jesuítas, pois de fato contêm a refutação mais
brilhante de todas as acusações levantadas por Pombal e repetidas por
Varnhagen.
Não falamos de algumas contribuições para a história
dos jesuítas como os Apontamentos, de Henrique Leal[1], porque são destituídos de qualquer
valor histórico; nem do Ensaio sobre os jesuítas, do cônego Joaquim
Fernandes Pinheiro[2].
Depois dos trabalhos de um Capistrano de Abreu, J.
Manuel de Oliveira Lima e Eduardo Prado, aqueles ensaios são antigualhas de
piedosa memória. Os nossos melhores historiadores formaram um juízo muito
diverso dos jesuítas, ainda que só de passagem e por ocasião falem da
Companhia.
Conhecemos apenas uma pequena obra sobre a Companhia
de Jesus, com o título Os jesuítas perante a história, por Ovídio da Gama
Lobo. Foi publicada em 1860 no Maranhão e hoje existirão dela poucos
exemplares. O seu autor dá um resumo de toda a história da Ordem, tratando mais
in extenso da supressão.
Descreve os acontecimentos com grande fidelidade, mas
a forma reduzida obriga-o a contentar-se com uns traços gerais que são insuficientes
para propor ao leitor esta trama mais fina da história universal , como um dos
melhores conhecedores da Ordem chama à supressão. O leitor incrédulo sacudirá a
cabeça e talvez repita o dito conhecido: «a história é uma grande tola ou foram
grandes tolos que no-la transmitiram».
Esforçamo-nos por reconstituir toda esta trama,
apoiando sempre as nossas afirmações em fontes que não podem ser recusadas.
Damos mais de uma vez a palavra aos principais atores
de toda a tragédia, aos ministros dos países borbônicos e às suas cartas
confidenciais, em que depondo, o manto oficial de um patriotismo fingido,
falavam do coração e da má vontade que nutriam.
O quadro é bem escuro; aliviam-no um pouco o heroísmo
com que a poderosa Ordem sofreu a crueldade dos inimigos, e as
virtudes apostólicas que opô aos representantes rancorosos do poder.
Apesar disso, o filho da Companhia achava-se digno da
festa da mãe. Nunca ela se mostrou mais digna do seu fundador do que na sua supressão.
Jamais se refutaram com maior evidência tantas acusações contra a Companhia de
Jesus como no espaço de tempo 1773-1814. Os governos seculares apoderaram-se de
tudo o que a Ordem possuia. Confiscaram-lhe, não só os bens materiais, como
também, na Espanha e em Portugal, levaram a crueldade a ponto de roubar aos
padres os escritos que cada um possuia, pondo todo o cuidado em que o padre não
levasse para o seu desterro senão o breviário e uma mesquinha trouxa de roupa.
Se houve crimes na antiga Companhia, deviam achar mais do que
vestígios nestas confiscações realizadas por inimigos empenhados em justificar
o seu próprio proceder. De mais a mais, tinham os perseguidores prometido as
provas das suas acusações contra os religiosos. Nunca cumpriram a sua promessa,
nem em Portugal, nem na Espanha. Pelo contrário, os clamores contra os
perseguidores cresceram tanto que o Papa Pio VII reconstituiu a Companhia de
Jesus sobre as mesmas leis que tinham regido a Companhia antiga.
Pelotas, 7 de agosto de 1913.
O AUTOR
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ÍNDICE
PREFÁCIO
CAPÍTULO I. AS CAUSAS GERAIS
Os tempos modernos —
As ciências empíricas — A maçonaria — A Academia de Potsdam
— Voltaire — Pombal
CAPÍTULO II. PORTUGAL
D.
João V — D. José I — Pombal ministro — Começa
a perseguir a Ordem — Escaramuças — Má vontade — O
visitador da Companhia de Jesus — O seu mandamento — A
Relação abreviada — O regicídio — P. Malagrida — Provas das acusações
faltam de todo — A expulsão e a sua execução
CAPÍTULO III. FRANÇA
A obra de Luis XIV —
Pompadour e Choiseul — As finanças — Damiens — P.
Lavalette — O parlamento de Marselha — A injustiça da
sentença — O parlamento de Paris — Os jesuítas
coligam-se com os filósofos e o parlamento — A condenação das
Constituições — A expulsão — A defesa dos
proscritos — Acham asilo na Espanha
CAPÍTULO IV. ESPANHA
A relação de
Schlosser — O mistério da iniquidade — motim de Madri — Plano dos inimigos — Arranjos — As cartas
falsificadas — Atrás dos bastidores
— A expulsão — As missões guaraníticas — Bucarelli
CAPÍTULO V. COALIÇÃO
Proposta
de Pombal às cortes de Espanha e França — Alvitres — A
Espanha consente — A França entra na coalição — Pombal
trabalha em Roma — A eleição do novo Papa — Cabalas
e esperanças — A promessa do Papa e Pombal — Entra
Monino em cena — Relutâncias do Papa — Pombal ajuda — Vitórias e gorgetas
CAPÍTULO VI. A ÁUSTRIA
Maria Teresa e os
jesuítas — A imperatriz não quer proceder contra a Ordem Pede provas das
acusações bourbônicas — Promete sujeitar-se à ordem do Papa, mas não fará nada
contra os jesuítas — Estima os Padres antes e depois da supressão — Testemunho
do cardeal Migazzi
CAPÍTULO VII. DEPOIS DA SUPRESSÃO
A
obediência dos jesuítas — O «castigo exemplar» do Geral da Ordem — As
cortes da Rússia e da Prússia — A corte de Espanha — Um
infante espanhol — Pio VI e Pio VII — O7 de Agosto de 1914
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[1] Revista do Instituto Histórico Brasileiro v. 34 (1871) e 36 (1873).
[2] C. f. «Vozes de Petrópolis». 1912. p. 777 ss.
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OBS.: Agradeço, de forma muito especial, todas as formas de colaboração dos leitores para disponibilizarmos, cada vez mais, excelentes obras, ajudando assim o apostolado e as almas. Que Nossa Senhora, da forma que Lhe é peculiar, também os auxilie a todos muito e sempre!
2 comentários:
não conseguir baixar o arquivo
Salve Maria, Enoch!
O link foi retificado,
Saudações!
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Em breve lhe darei um retorno, porém se o seu comentário for ofensivo infelizmente terá que ser ignorado, pois aqui não é local para ataques aos ensinamentos seculares da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui o leitor pode estudar para conhecer a beleza e sabedoria do Catolicismo. Salve Maria!