Escrito por ela mesma
Livro de 1939 - 301 págs
Livro de 1939 - 301 págs
Prólogo
JESUS
Por
experiência tenho visto, sem falar no que em muitas partes tenho lido, o grande
bem que é para uma alma o não se apartar da obediência. Entendo ser este o meio
de se ir cada um adiantando na virtude e cobrando humildade; está nisto a
segurança contra o temor de errar o caminho do Céu, e é bom que nós mortais o
tenhamos enquanto vivemos nesta terra.
Aqui se acha a paz, tão prezada das almas que desejam contentar a Deus. Com efeito, se deveras resignaram e renderam o entendimento a esta santa obediência, não querendo ter outro parecer senão o do Confessor — e o do Prelado, se são Religiosos, — cessa o demônio de acometer com suas contínuas inquietações, vendo que sai com perda em vez de ganho. Igualmente, nossos agitados apetites, amigos de se satisfazerem e até de sujeitarem a razão em coisas do contentamento próprio, sossegam vendo que determinadamente submetemos nossa vontade à de Deus por meio da sujeição aos seus representantes. Tendo-me Sua Majestade, por sua misericórdia, concedido luz para conhecer o grande tesouro encerrado nesta preciosa virtude, tenho procurado exercitá-la, ainda que fraca e imperfeitamente. Isto não impede que muitas vezes sinta repugnância para levar a termo algumas coisas que me mandam, quando entendo não ser suficiente a pouca virtude que vejo em mim. Digne-se Sua Majestade suprir o que me falta para a presente obra.
Aqui se acha a paz, tão prezada das almas que desejam contentar a Deus. Com efeito, se deveras resignaram e renderam o entendimento a esta santa obediência, não querendo ter outro parecer senão o do Confessor — e o do Prelado, se são Religiosos, — cessa o demônio de acometer com suas contínuas inquietações, vendo que sai com perda em vez de ganho. Igualmente, nossos agitados apetites, amigos de se satisfazerem e até de sujeitarem a razão em coisas do contentamento próprio, sossegam vendo que determinadamente submetemos nossa vontade à de Deus por meio da sujeição aos seus representantes. Tendo-me Sua Majestade, por sua misericórdia, concedido luz para conhecer o grande tesouro encerrado nesta preciosa virtude, tenho procurado exercitá-la, ainda que fraca e imperfeitamente. Isto não impede que muitas vezes sinta repugnância para levar a termo algumas coisas que me mandam, quando entendo não ser suficiente a pouca virtude que vejo em mim. Digne-se Sua Majestade suprir o que me falta para a presente obra.
Estando
eu no mosteiro de São José de Ávila, no ano de 1562, em que se fundou, recebi
ordem do Padre Frei Garcia de Toledo, Dominicano, então meu Confessor, para
escrever a fundação do mesmo mosteiro com outras muitas coisas que se verão
algum dia se saírem à luz. Agora em Salamanca, onde estou, no ano de 1573, onze
anos mais tarde, um Padre Reitor da Companhia, chamado Mestre Ripalda, meu
Confessor, viu o livro que trata da primeira fundação. Julgou do serviço de
Nosso Senhor escrever-se uma notícia sobre os sete mosteiros que de então para
cá, pela bondade do Senhor, se hão fundado, juntamente com as origens dos mosteiros
dos Padres Descalços da primeira Ordem, e mandou-me que a fizesse. Pareceu-me
coisa impossível por causa dos muitos negócios, quer de cartas, quer de outras
ocupações forçosas mandadas pelos Prelados. Enquanto me encomendava a Deus, um
tanto aflita por me ver com tão pouca capacidade e com má saúde, — que, ainda
sem este acréscimo muitas vezes me parecia excessivo o trabalho para a minha fraca
natureza, — disse-me o Senhor: “Filha, a
obediência, dá forcas”.
Permita
Sua Majestade que assim aconteça, e dê-me graça para acertar eu a dizer, em seu
louvor, as mercês por sua mão derramadas sobre nossa Ordem no curso destas
fundações. Pode-se ter por certo que usarei de toda a verdade, sem encarecimento
algum, ao menos consciente, e que direi tudo exatamente como se passou. Se por
nenhuma cousa da terra, quisera eu mentir, mesmo em ponto de mínima
importância, quanto mais teria grande escrúpulo de o fazer, nisto que escrevo
para que Nosso Senhor seja glorificado. Seria, a meu ver, não só perder tempo,
mas enganar com as coisas divinas, e tirar delas ofensa e não louvor de Deus; o
que seria grande traição. Sua Majestade, por quem é, jamais me deixe de sua
mão, a ponto de cometer eu tal crime. Tratarei de cada fundação particularmente,
procurando abreviar; mas talvez não o consiga, porque é tão pesado meu estilo,
que receio bem cansar a mim e aos outros, apesar de todos os meus esforços.
Como, porém, este escrito há de reverter às minhas filhas depois de meus dias,
elas, com o amor que me têm, saberão relevar meus defeitos.
No
que escrevo, de nenhum modo procuro proveito meu, nem há razão para isto; tenho
em vista unicamente o louvor e glória de Nosso Senhor, pois muitas coisas
levarão a glorificá-lo. Não permita Sua Majestade que passe pela cabeça dos que
isto lerem, a lembrança de me atribuir merecimento algum. Seria ir contra a
verdade. Peçam antes ao Senhor que me perdoe o mau uso que fiz de tantas
mercês. Muito mais razão tendes, minhas filhas, de vos queixar de mim, do que
motivo de me dar graças pelo que está feito. Agradeçamos todas, filhas minhas,
à Divina Bondade tantos benefícios que nos tem concedido. A quem isto ler peço
por amor de Deus uma Ave-Maria que me ajude a sair do Purgatório e chegar a ver
Jesus Cristo Nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo por
todos os séculos. Amém.
Por
minha pouca memória, creio que omitirei muitas coisas bem importantes e direi
outras que poderia excusar. Em suma, mostrarei em tudo meu pouco engenho e
saber, e também a falta de vagar com que escrevo. Recebi ordem igualmente de
tratar de algumas coisas de oração sempre que se apresentar oportunidade, assim
como dos enganos que no caminho espiritual podem impedir o progresso das almas.
Submeto-me em tudo ao ensino da Santa Igreja Romana, e quero que este escrito
antes de chegar às vossas mãos, irmãs e filhas minhas, seja examinado por
homens doutos e pessoas espirituais. Começo em nome do Senhor, tomando por
intercessores a sua gloriosa Mãe, de quem trago o hábito, embora indigna, e a
meu glorioso Pai e Senhor São José, que sempre me tem valido com seu
patrocínio, e em cuja casa estou, pois tem seu nome este nosso mosteiro de
Descalças.
No
ano de 1573 , dia de São Luiz rei de França, que é aos 24 de Agosto. (*)
__________
__________
(*) Escrevia
a Santa Madre nas primeiras vésperas da festa que se celebra no dia seguinte 25
de Agosto.
2 comentários:
O arquivo sumiu do Mediafire
Salve Maria, Rafael!
Agradeço o aviso e informo que o link foi retificado,
Saudações!
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Em breve lhe darei um retorno, porém se o seu comentário for ofensivo infelizmente terá que ser ignorado, pois aqui não é local para ataques aos ensinamentos seculares da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui o leitor pode estudar para conhecer a beleza e sabedoria do Catolicismo. Salve Maria!