Pe. Virgílio Cepari
Companheiro de Religião e Contemporâneo do Santo
Edição de 1910 - 430 págs
Que tendes na mão? Que vos oferecemos? Um livro? Não: um amigo: esse tesouro em que se encontram profusamente
todas as riquezas; esse seio sempre generoso e aberto para receber nossas
alegrias, nossas mágoas, nossas aspirações, nossas misérias; esse oceano em que
nos podemos lançar confiantes e certos de sempre achar abrigo; essa imagem do
amor de Deus, que se chama um amigo. Esse amigo, nobre, fiel, dedicado,
generoso, benfazejo, oh! não penseis que seja este livro, não: esse amigo é S.
Luiz de Gonzaga.
No firmamento da Igreja de Deus, poucos Santos haverá talvez tão
conhecidos, ou antes, tão mal conhecidos, como o nosso santo Amigo. Que ideia
se forma em geral de S. Luiz? Sabe-se que foi uma daquelas almas prevenidas das
bênçãos da celestial doçura, que passam sobranceiras pelo lamaçal do mundo sem
macular de leve as asas puríssimas de graça, sabem-se quando muito alguns episódios
de sua vida, que foi príncipe, morreu moço; e no mais... quanta ignorância!
Muitos são devotos de S. Luiz por verem
suas imagens tão belas, tão atraentes... Outros por admiração à sua inocência.
Alguns, finalmente, o consideram de um modo tanto romântico, se assim nos podemos exprimir; simpatizam com ele porque foi belo, nobre, abandonou tudo
por amor de Deus, morreu na mais formosa idade da vida...
Como é superior a tudo isto o Amigo que ganhastes neste dia! Não foi uma
alma fria, isenta de sentimentos humanos, um coração inacessível, uma estatua
de mármore, como alguns pensam: tanto teve de humano, como de sobre-humano. Sua
inteligência descortinou em sou voo de a guia os mais longínquos horizontes, e
quantos monumentos imperecíveis nos teria certamente deixado se a sede de Deus
o não tivera levado tão cedo a saciar-se plenamente naquele divino manancial em
que de leve molhara os lábios, na terra e, cuja saudade o consumia do mal dos
Santos: o amor! Seu nobre coração, acessível a tudo quanto há de grande e
generoso, só uma coisa
desconheceu: a
maldade; quanto mais puro, porém e angélico, mais tesouros de compaixão e
caridade reservava aos infelizes que perderam aquela túnica nupcial que o
revestia, aquela amizade de Deus que o inundava e fazia a admiração dos mesmos Anjos.
O nosso Amigo foi um Santo bem humano. O principal sentimento que
desperta a leitura de sua vida, é esse afeto, essa ternura, essa comoção que só
pode excitar o que é profundamente humano. Quem não se enternecerá e sentirá um
aperto bem doloroso no coração vendo aquele principezinho de quatro ou cinco anos,
já entusiasmado por tudo quanto há de belo e generoso, levado pelo seu gênio
altivo e pelo nobre sangue que lhe corre nas veias, ofuscado pelo brilho da glória
militar, inclinado à vida das armas, à frente das tropas de seu pai e depois...
depois que um arrependimento - coroa de todas as mercês divinas - vem ainda
mais purificar aquela almazinha de que não cometera, morrer de repente a tudo,
com coragem sobre-humana, tão incompreensivelmente superior à sua idade, sem
direção, sem guia, sem conselho, arrancar as próprias entranhas, por assim
dizer, suas aspirações, seus nobres sonhos, suas ilusões de criança. Com que
sublime generosidade procura reparar aquele passado imaculado em que seus olhos
puríssimos, deslumbrados pelos resplendores da Formosura divina, descobrem
manchas! Aqui o vemos desmaiado de dor aos pés do confessor; ali, vencido pela
fraqueza e pelas austeridades, enregelado pelos grandes frios da Lombardia,
prostrado por terra em camisa, passando a noite em oração. Com que sabedoria
celeste, com que coragem arranca de sua alma os menores vestígios de
imperfeições, os mais secretos germens
das paixões ainda não despontadas; cerceia tudo que o poderia afastar, ou ainda
distrair um momento do Sumo Bem, em cuja contemplação sua alma enamorada se abisma
e perde!
Mas Jesus não se deixa vencer em amor. Ele mesmo Se chega aquela almazinha
cândida em que vê refletida sua divina pureza e dá-lhe a beber o néctar de suas
consolações mais preciosas; abre-lhe no coração aquela incurável ferida de amor
que faz o tormento cheio de delicias e as delícias cheias de tormentos dos serafins
do divino amor; fá-lo penetrar na mais secreta câmara do seus tesouros e
ostenta a seus olhos deslumbrados aquelas riquezas que os olhos do homem nunca viram, seus ouvidos nunca ouviram celebrar, seu coração
nunca poderá compreender. Na idade em que os demais meninos estão entregues
aos folguedos da infância, eleva-o à mais alta contemplação; reveste-o de uma fortaleza, anima-o de uma sabedoria
que faz a admiração de toda a corte e avassala o espírito dos próprios pais.
Livra-o de manifestos perigos, porque não quer que seja outra a sua morte senão
a do amor; manda de Milão S. Carlos Borromeu, não com o fim de visitar o Bispado, mas para consumar,
como sacerdote do Altíssimo, sua união com aquela alma, oásis de suas delícias.
Segrega-o do mundo, e, finalmente, colhe-o para Si, em pleno viço o formosura,
adornado de todas as graças, rico de todos os merecimentos, mártir do amor ao
próximo em sua morte, como fora mártir do amor divino em sua vida.
Se a pobre criatura humana alguma coisa pode merecer de seu grande Deus
S. Luiz, certamente merecia esse amor. Seu coração, como um teclado dócil
respondia com uma gama de afetos à mais leve pressão dos dedos divinos; cada
graça encontrava nele um reconhecimento; cada carinho, um sacrifício: - a munificência
de Deus se comprazia em porfiar com a generosidade daquela criança.
[...]
A obra é cheia de interesse e encanto pela sua unção, simplicidade, e
verdade. É esta a vida de S. Luiz, não há que duvidar. Julgamos, entretanto,
poder afirmar que o autor, como verdadeiro filho de Santo Ignácio, escrevendo
numa época em que S. Luiz não fora ainda canonizado, não quis antecipar seu
julgamento ao da Igreja, e procura por diques à sua admiração e entusiasmo,
sendo em extremo discreto, prudente e reservado.
Maria Santíssima, nossa boa Mãe, a quem consagramos e entregamos este
livro, se digne tomá-lo debaixo de seu patrocínio e derramar sobre ele suas
bênçãos, para que possa acender em todos os corações a devoção a S. Luiz, e suscitar-lhe muitos
imitadores e fiéis amigos, que
derramando na terra o bom odor de Jesus Cristo,
tornem mais conhecido, amado e servido o nosso grande Deus, a Quem seja glória eternamente, o apressem
o advento de seu reino, que tão instantemente pedimos cada dia da oração que
nos ensinou seu divino Filho: Adveniat reqnum
tuum.
2 comentários:
Infelizmente no momento não poderei ajudar o site. No entanto, pretendo em breve ser um contribuinte mensal com a graça de Deus. Fiquei maravihada com os tesouros que aqui encontrei. A partir de hoje divulfarei esse sie. Obrigada atodos que contribuem com algo tão maravilhoso. Deus aençoe a todos.
Amen!
Deus lhe pague!
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Em breve lhe darei um retorno, porém se o seu comentário for ofensivo infelizmente terá que ser ignorado, pois aqui não é local para ataques aos ensinamentos seculares da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui o leitor pode estudar para conhecer a beleza e sabedoria do Catolicismo. Salve Maria!