PREFÁCIO
Durante os meses
que precederam o seu casamento, a noiva procurou instruir-se sobre a natureza e
importância dos deveres que sobre ela recairiam logo após a união matrimonial,
e preparou-se para cumprir as obrigações dessa união derivadas.
Agora, a situação é outra. Agora já não é ela noiva, mas esposa. Agora já não olha de longe para o lar, como outrora Moisés, avistando com os seus olhos alvoroçados, a Terra Prometida. Agora, ei-la introduzida no lar como rainha nos seus domínios. Teve de deslocar-se, talvez mesmo descer, das regiões do sonho para as da realidade. Presentemente o seu dever não é entregar-se a uma pura contemplação das virtudes domésticas mas pô-las em prática.
Mais do que uma
rapariga, alegremente ingressada no estado conjugal, se tem sentido, a breve
trecho, tomada de certa surpresa, talvez mesmo de estupefação, perante os
deveres duma situação para ela praticamente desconhecida. Para algumas, esta
situação de começo irá — quem sabe? — talvez até ao pavor, como aquela terna
rapariga que, casada, aliás, com um excelente rapaz, se foi lançar nos braços
da mãe, confidenciando-lhe, banhada em lágrimas, que se via perdida no dédalo
das suas novas obrigações. Muito mais numerosas serão as que, sem chegarem a
tão dolorosa impressão, nascida de um passageiro desconhecimento do seu papel,
não veem, todavia, com clareza dentro da sua nova mansão. Todas essas — e serão
a maioria das jovens casadas — concordariam decerto com estas palavras que
escreveu uma recém-consorciada: «Casada, há apenas algumas semanas, aprecio
agora mais do que nunca assuntos de educação... mas, se pensamos nos filhos e
nos deveres que os pais têm a cumprir para com eles, não será preciso também
pensar nos deveres das mulheres para com os seus maridos?... Há, na verdade,
motivo para se perguntar se estará à altura da sua missão uma rapariga que,
logo após o seu casamento, se encontra numa situação totalmente diferente
daquela em que se encontrava na véspera... ».
Foi para
corresponder ao desejo de muitas jovens casadas que se escreveu este livro.
Propõe-se ele satisfazer a sua legítima avidez de conselhos na matéria e
proporcionar-lhes diretrizes tanto mais desejadas quanto é certo que, na hora
grave da entrada no lar, não têm geralmente ninguém que lhas dê.
O simples
título deste trabalho indica o fim que tem em vista: «A mulher, encanto do
lar». Se o marido é o chefe, o defensor, a providência da casa, a mulher deve
ser o encanto que torna o ninho delicioso, o ímã que para ali atrai, o laço que
ali prende os corações. Ela deve, pois, dispor de um poder de coesão tanto mais
irresistível quanto atua no interior, tal como aquele vigor que concentra as
energias do grão para dele fazer nascer uma planta e uma flor. Tudo o que vive
no lar deverá inclinar-se com respeito diante deste poder de sedução: o marido,
por uma verdadeira admiração para com aquela que lhe embeleza a vida; os
filhos, honrando profundamente a mãe com a efusão dos seus carinhos e ternuras;
os servos, subjugados pela sua doçura e bondade... «A mulher, encanto do lar»,
que belo programa!
É este o ideal
que estas páginas vão fazer contemplar. Determinarão elas, em primeiro lugar,
os «Motivos de simpatia». Há tantos segredos que tornam a jovem casada
atraente, sedutora, ao seu marido! É preciso que ela conheça esses segredos
para aplicar-se a procurá-los e a pô-los em ação.
Mas será
preciso, também, mencionar as «Causas de aversão» que são, infelizmente, muito
numerosas e demasiado poderosas porque encontram ardorosas cúmplices nas
tendências da natureza decaída, a ponto de facilmente produzirem lamentáveis
estragos em alguns lares. Apontando-as, mostraremos o seu odioso e incutiremos
o seu horror.
Finalmente, para
exercitar-se no cultivo das «virtudes atraentes» e na extirpação dos «defeitos
geradores de antipatia», a jovem casada deverá ir procurar a coragem e o amor
do sacrifício na sua verdadeira fonte que é a religião bem compreendida. Em tal
estudo, a jovem casada aprenderá o verdadeiro segredo da «Conquista da realeza
no lar» que muitas outras em vão procuraram.
Estarão as leitoras deste volume dispostas a semelhante empresa? Esta é, por certo, de molde a tentar as que, um dia, se deixaram seduzir pelo desejo de possuir o seu quinhão de realeza no lar, para um maior amor de Deus, para a felicidade dos maridos e para o bem dos seus filhos.
ÍNDICE
PREFÁCIO
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO I — O estado
das almas logo após o casamento. O desejo da felicidade — Admiração mútua —
Confiança desmedida — A inexperiência — Falta de adaptação — Desigualdade de
hábitos — Divergências sobre princípios — Descoberta de defeitos — Trabalho
de ajustamento dos gênios — O trabalho de fusão das ideias — Rumo à paz
CAPÍTULO II — Os talentos
naturais da mulher. Encantos exteriores. — Uso dos encantos exteriores —
Talentos do interior: a inteligência — Conhecimento do marido — Interesse
pelo marido — Conselheira do marido — Exercitar-se em julgar. — A vontade —
Educação da vontade — Forjar a vontade na energia — A perseverança do querer — O otimismo, sustentáculo do esforço
CAPÍTULO III — Os
talentos adquiridos da casada. O que são talentos adquiridos — A arte
culinária — Importância duma boa cozinha — A arte da dona de casa — As
indústrias caseiras — A puericultura — Os talentos artísticos — Crítica de
arte — O magistério — O emprego — O negócio — A administração rural
CAPÍTULO IV — As
virtudes da mulher casada. Necessidade da virtude — Razões da fidelidade
conjugal —Benefícios da fidelidade conjugal — O recato, guarda da fidelidade — Inimigos da fidelidade conjugal — Honestidade do leito nupcial — A continência — A aceitação dos deveres conjugais — O desejo de ser mãe — Amor do
sacrifício — Abandono à Providência — Valor educativo da família numerosa. —
Aptidão dos filhos para receber a formação — A segurança das famílias numerosas — Espírito de fé — A paciência — Paciência... até a abnegação
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO I — O
mundanismo. As suas devastações — A sedução do prazer — A sedução do triunfo — Deserção do lar — Abandono do marido — Abandono dos filhos — O filho entregue
aos criados — Os pecados da língua — Os galanteios — Adeus ao mundanismo
CAPÍTULO II — O mau
gênio. Defeitos de temperamento — Remédio para os defeitos de temperamento —
O ciúme — Ansiedades do ciúme — Como proceder com a ciumenta — Os filhos,
remédio para o ciúme — A susceptibilidade — O amuo — O ressentimento —
Espírito de contradição — A mentira — A indiscrição. A rotina caseira
CAPÍTULO III — O mau
governo. A avareza — Consequências da avareza — A prodigalidade — A negligência — O esforço, antídoto da negligência — O autoritarismo — Caridade, remédio
para o autoritarismo
TERCEIRA PARTE
CAPÍTULO I — A piedade pessoal. Necessidade da piedade — Seus obstáculos: comunidade de vida — Deveres conjugais — Adoração pelo marido — Necessidade de um diretor de consciência — Deixar-se conduzir — O Santo Sacrifício da Missa — A Comunhão, participação no Sacrifício — A oração — O exame particular — A confissão regular e bem preparada. O Rosário
CAPÍTULO II —
Influência cristã junto do marido. O marido praticante — O serviço de Deus em família — O marido indiferente — O marido hostil à religião — Influência antirreligiosa
do marido — Energia cristã perante o marido — Exigir os atos «oficiais»
cristãos — Ganhar o coração pela virtude — A aproximação da hora de Deus — A
crise dos quarenta anos — Causas e efeitos da crise dos quarenta anos — Como sustar
a crise? — Recomeçar a conquista do coração — A vitória final
CAPITULO III — O apostolado social. Lutas contra o egoísmo — Impelir o marido para a função social — Se for necessário, lançá-lo na vida pública — Formar os filhos no sentido social — Falar do sacerdócio, apostolado supremo — Organização social do Lar — Apostolado social junto dos operários e dos empregados — Junto do pobre — Seus maravilhosos resultados — O Paraíso no lar
2 comentários:
Posso imprimir toda a obra e usar como livro de consulta pessoal? Ou seria me imputado o crime( pecado) de direitos autorias. Aproveitando o espaço do comentário, posso imprimir a Suma teológica também, separada por partes ? Salve Maria e Viva Cristo Rei.
Salve Maria, Felipe!
Todo o material do blog é para seu uso pessoal, portanto não se pode comercializá-lo.
Aconselho-te a procurar um bom padre para lhe orientar sobre este assunto para que não fique com dúvidas.
Saudações!
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Em breve lhe darei um retorno, porém se o seu comentário for ofensivo infelizmente terá que ser ignorado, pois aqui não é local para ataques aos ensinamentos seculares da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui o leitor pode estudar para conhecer a beleza e sabedoria do Catolicismo. Salve Maria!