Pe. Alexandrino Monteiro, S. J.
Edição de 1953 - 143 págs
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À GUISA DO PRÓLOGO
À GUISA DO PRÓLOGO
Num campo de concentração levanta-se uma igreja ortodoxa, improvisada numa tenda de campanha. No fundo vê-se um altar para o santo sacrifício. Os santos ícones são debuxados a carvão e a giz de cor, com um aspecto e traços característicos.
Em meio da igreja alteia-se um grande Crucifixo do tamanho dum homem, de nova e esquisita escultura.
A imagem do Redentor fora recortada em pedaços de cartão, e a coroa de espinhos feita de latas de conserva retalhadas em tiras delgadas.
O pintor, na falta de tinta vermelha para imitar o sangue das feridas, serviu-se de pedacinhos de papel rubro, procedente de caixas de cigarros, e os colocou nas mãos, nos pés e no lado, a fingir os divinos estigmas.
Diante deste Cristo crucificado ajoelham-se, rezam e choram os infelizes deportados, e n’Ele encontram força e resignação para seu longo martírio.
Cristo crucificado exerce, ainda hoje, sobre os homens a influência que exerceu no Calvário, há vinte séculos: “Quando Eu for exaltado da terra, tudo atrairei a Mim”.
Cristo crucificado continua a ser o conforto dos que sofrem, dos que a injustiça humana relegou para os campos de concentração, ou condenou a viver entre os ferros duma prisão subterrânea.
A imagem do Divino Mártir do Gólgota, ou seja de ouro ou de prata, de madeira ou de cartão, impressiona pelo que representa, e não pela arte que revela, nem pela matéria, em que é vazada.
Se o encarcerado tem falta de pão, sustenta-o Cristo na cruz; se as forças lhe desfalecem, restaura-lhas; se dá o último suspiro, recebe-lho com um ósculo de amor e de perdão.
Conhecer o Crucifixo, — a grande ciência de S. Paulo.
Amar o Crucifixo — a santa loucura do Místico de
Assis.
Meditar no Crucifixo, — o tema inesgotável de S. João da Cruz.
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