26 agosto, 2013

A Bíblia e a Tradição

Esquemas de provas bíblicas  sobre Fé, os Sacramentos, os Novíssimos, os Mandamentos e a Oração, segundo os Tratados de Teologia e o Catecismo Romano
Cônego Lourenço Cavallini
Edição de 1966 - 200 págs


“... Não existe, pois a Bíblia como tal, como sendo Palavra inspirada por Deus, sem a Tradição Oral que nos prove e testemunhe perenemente ser Deus o Principal Escritor de todas e cada uma das partes das Sagradas Escrituras. A Tradição Oral prova e movimenta a inspiração escrita da Bíblia. Ajuda muito observar que é próprio do homem o falar, e, por conseguinte, o escutar, o ouvir também. Mas é convencional o escrever e o ler, como nos atestam os milhões de analfabetos, entre nós e no mundo inteiro. Sobrenatural e psicologicamente é uma verdade inconteste que: “a Fé entra pelo ouvido.” (Rom 10, 17). Logo, a obrigação de ouvir, o dever desta audição é tão grave e divino, quanto é divina e grave a ordem de pregar a mesma Palavra de Deus, POIS DEUS NÃO FAZ NADA INÚTIL. Em primeiro lugar, pois, ouvir, e, em segundo lugar, se possível, ler. Nem mais, nem menos. É preciso, primeiro ser instruído por outrem, devidamente autorizado, para que, em segundo lugar, a leitura seja possível e proveitosa, e não inútil, ou pior ainda, perniciosa, como a experiência nos atesta na história de todos os erros, por exemplo, dos espíritas, que tendo sempre nos lábios a Bíblia, no que Ela tem de mais lindo: a Caridade, negam abertamente TODOS OS MISTÉRIOS da Fé.
Nos Atos dos Apóstolos 8, 26-39, lemos um exemplo frisante da necessidade de alguém ser instruído por outrem: Felipe, ouvindo o enviado da rainha da Etiópia ler o profeta Isaias, lhe perguntou: “Compreendes o que lês?” A resposta veio rápida: “Como poderei compreender, SE NÃO HOUVER ALGUÉM QUE ME EXPLIQUE ISTO?” Então, Felipe explicou a passagem de Isaías, antes ininteligível ao etíope; em seguida, o batizou. Isto se repete, desde N. S. Jesus Cristo até nós mesmos, ao aprendermos, em pequenos, sem nunca termos lido a Bíblia, crendo firmemente o que nos era ensinado pulo Sacerdote, por nossos pais, catequistas e professores de Religião. Mais uma vez repetimos: pela sobrenaturalidade da Religião, pela Revelação Divina, pela exigência natural da inteligência humana, somos todas, sem exceção, ensinados pelos outros. É o que, na prática, fazem igualmente nossos irmãos separados, em suas escolas dominicais. Cada seita protestante ensina seus possíveis fiéis, conforme um modo de encarar a Bíblia, com modificações substanciais as mais variadas, diversas, contrárias e contraditórias. Cada seita ensina conforme pensa, assim e assim, e tem a própria explicação que é pregada de viva voz. Logo, todas elas admitem igualmente, praticamente, apesar de negarem, da boca para fora, que existe a famosa tradição oral. E para que esta tradição oral não se desvie nas pregações, existem os catecismos protestantes. Não é tradição a explicação luterana, ou calvinista, e todas as demais? Evidentemente que sim. Tanto é verdade, que, se alguém não admitir tal e qual interpretação, se afasta e vai fundar uma nova e distinta e original religião, com novo rótulo e... alguma peregrina mudança substancial na doutrina. Eis a suma necessidade de provar que a Bíblia é Palavra Escrita de Deus e de resumir doutrina de páginas tão vastas. Nem sequer vamos nomear aqueles protestantes que não mais admitem a Bíblia como inspirada por Deus.
Os critérios internos da Bíblia não provam mas simplesmente comprovam o testemunho ininterrupto da Tradição Oral que nos ensina a inspiração divina das Sagradas Escrituras. Aliás, a própria Bíblia nos diz que, primeiro, a doutrina foi pregada, e só depois de ter sido pregada é que os Livros Sagrados foram escritos. Cristo não mandou os Apóstolos escrever livros, mas pregar de viva voz. Assim a Bíblia é posterior à Tradição Oral, se bem que sejam ambas de igual inspiração e autoria divinas, portanto de igual valor. Finalmente, a coleção total e inteira e pormenorizada dos muitos livros que compõem a Bíblia, isto é, o catálogo de todos e cada um dos Livros Sacros, com todas e cada uma de suas partes, só e unicamente a Tradição nos pode ensinar infalivelmente, pois, NA PRÓPRIA BÍBLIA NÃO EXISTE TAL PRECIOSÍSSIMO RELATO.
Concluímos e repetimos, duas são as fontes da Fé: a Bíblia e a Tradição, cuja origem é Deus.
Concluímos igualmente que não existe sequer a possibilidade de interpretação particular, singular, individual, personalística, em assunto o mais grave, importante e universal, como nos ensina o primeiro Papa, 2Pe 1,20-21: "atendendo antes de tudo a isto: que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular. Porque a profecia nunca foi dada pela vontade dos homens, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”. Antes já havia dito: “Pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação.” 1Pe 1,5.
Muito bem nos diz o Catecismo Romano, proêmio § 5: “Nós nos apoiamos na admirável promessa de Nosso Senhor, que afirmou ter lançado os alicerces de sua Igreja, com tanta firmeza, que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra ela.” Fugir desta Tradição é naufragar na fé....”
Cônego Lourenço Cavallini

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