Pe. José Kentenich
Livro de 1999 - 246 págs
Os sermões contidos neste livro constituem ampla
"Escola de Formação Mariana"
Trecho do Sétimo Sermão
Como é o coração de Maria?
"Todas as
vezes que considero o amor de Maria para comigo — dizia São João Berchmans — enrubesço de vergonha". Como os raios do sol penetram por toda a parte assim o amor maternal de Maria abrange todas as almas. "Se me disserem —
proclama Henrique Seuse — que neste momento não sucede nenhum milagre de amor
de Maria para conosco, nomear-te-ei centenas deles no próximo instante. E se
confessares que nesta hora Maria não nos ama, enumerarei nas próximas horas as
incontáveis provas do seu amor. Conta as flores do prado, os botões e as folhas
na primavera; conta os mosquitos e moscas que voam no verão; conta os grãos de
areia na praia do mar; conta os flocos de neve e as gotas de chuva, e saberás
então quantos são os milagres, as provas de amor e os benefícios da
misericórdia de Maria".
Para
ouvidos estranhos, tais expressões e fatos soam como exagerados e fantásticos.
Parecem traduzir sentimentos de um coração que não está mais sob o domínio da
inteligência e da vontade. Para nós, porém, que conhecemos a posição de Maria
no plano da redenção, é tentativa balbuciante de revestir de palavras humanas
o que o Senhor disse através de seu testamento: Ecce Mater tua! Tudo isto indica apenas as consequências evidentes
da feliz realidade de que Maria, no verdadeiro sentido da palavra, é e
permanece nossa Mãe, por tempo e eternidade. "Não é o nome — diz São
Bernardo — que torna de fato uma mulher mãe de seus filhos, mas sim o
amor." E nós acrescentamos que tal amor, como é o nosso caso, fundado não
só na atitude, mas na verdadeira transmissão de vida, não deixa dúvidas de sua
nobreza, grandeza e profundidade. Acresce duplamente de valor ao constatar que
tal verdade está ancorada na palavra criadora do Deus todo-poderoso e cheio de
amor: Ecce Mater tua! - Ecce filius tuus!
Para tornar mais
compreensível o imenso amor que Maria dedica a nós, os teólogos discorrem
sobre a passagem bíblica: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que
lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna" (Jo 3,16). Lessius, pesando palavra por palavra, procura
determinar o seu sentido. Ele diz: "Quem pode, na consideração de tais
palavras, não sentir admiração, emoção e lágrimas? Deus sapientíssimo, poderoso
e amantíssimo, embora bastando-se a si mesmo, esquece-se de si, e o faz de tal
forma que a todos se dá em medida rica, imensa e abundante. A todos, tudo dá e
de ninguém recebe. Enriquece a todos e de ninguém necessita. Deus amou tanto o
mundo — o mundo, a humanidade marcada pela maldição do pecado, sujeita à morte
e à dor, tão impura e hostil, ingrata e obstinada, indigna do amor divino, mas
considerada de tão alto valor e orçada num preço tão elevado! A ela entregou o
seu Filho Unigênito — não ouro e prata, nem a terra e seus tesouros, nem um
anjo ou querubim, mas o seu Filho Unigênito, Deus de Deus, Luz da luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, de igual essência, poder e majestade como o
Pai e o Espírito Santo; entregou-o à pobreza, à fome e ao frio, ao desprezo e
perseguição, à flagelação e coroação de espinhos, às pancadas e bofetadas, às dores
inauditas e à morte de cruz. Entregou-nos esse Filho como caminho, o qual nós
trilhamos, a verdade na qual cremos, a vida que devemos esperar para chegarmos
à salvação; entregou-o como "Luz para a iluminação dos pagãos" (Lc
2,32); como Pastor, para cuidar do rebanho; como Sumo Sacerdote e Vítima, para
reparação dos pecados; como Rei, para a fundação do reino da graça, para a
instituição da Igreja; como Salvador, para a libertação do poder de Satã e do
inferno; como Juiz dos vivos e dos mortos, para a recompensa dos bons e castigo
dos maus. Deus amou tanto o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigênito, para
que todo o que nele crê — corde: com o coração, à justiça; ore: com a boca, à
bem-aventurança. — 'Quem o confessa diante dos homens' (Mt 10,32), o confessa
como verdadeiro Filho de Deus, como o Salvador do mundo, o confessa como Aquele
'diante de quem todos os joelhos se curvam no céu, na terra e debaixo dela'
(Fil 2,10); que esse não pereça, não perca sua alma e a bem-aventurança, não vá
para o inferno, mas tenha a vida eterna; que pertença àqueles a quem o Juiz
convida: 'Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está
preparado desde a criação do mundo' (Mt 25, 34)".
A mesma expressão
— assim nos dizem os teólogos — pode também ser aplicada à Mãe de Deus: Maria
amou tanto o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigênito, para que todo o que
nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.
Quem
se atreve a medir a grandeza do sacrifício livremente oferecido, e o abismo do
amor que nele pulsa?! Por nós entregou Ela o seu Filho ao cadafalso da cruz —
seu Filho que é seu Deus, sua única alegria e delícia, sua felicidade e
bem-aventurança, a sua vida... Enquanto outras mães, diante da morte de seus
filhos sucumbem, mergulhadas em lágrimas, Ela permanece de pé junto à cruz do
seu Unigênito, que morre — segundo a opinião pública — como criminoso, numa
morte violenta, num assassínio perverso. Ela está calma e serena, com a espada
de sete gumes no coração; resignada com a vontade de Deus. E tudo isto
consciente da importância salvífica do grande acontecimento. É quase como se
devesse e quisesse, para o nosso nascimento, suportar as dores de parto, que
lhe foram poupadas no nascimento de seu Filho Unigênito; e assim, a todos os
que, de modo semelhante, no correr dos séculos, são considerados dignos de sofrer
dores criadoras para o reino de Deus, merecer a graça de permanecerem firmes ao
pé da cruz.
Para
que possamos sentir toda a grandeza dos sofrimentos suportados pela Mãe das
Dores, São Gregório de Nyssa dá-nos uma chave às mãos. Ambos os corações de
Jesus e de Maria — explica o santo — foram como que duas cítaras a soar juntas
— quando uma ressoava, a outra ressoava juntamente com ela, embora ninguém a
dedilhasse. Isto significa que tudo o que o Homem das Dores sofreu no corpo e
na alma repercutiu na Mãe das Dores em compaixão terna e profunda, inaudita,
que atormenta amargamente corpo e alma. Daqui se deduz o que exprimem as
palavras: "Ela estava de pé junto à cruz" (Jo 19,25).
São
Jerônimo aplica, em forma concreta, o princípio enunciado, dizendo que "as
chagas, os espinhos, os flagelos que martirizaram o corpo de Cristo tornaram-se
igualmente tormentos a penetrar na alma de Maria". São Bernardo indagava à
Mãe das Dores cheio de terna compaixão: "Dize-me, onde estavas? Talvez
junto à cruz? Muito mais: Tu estavas presa (espiritualmente) na cruz". E
continua: "Ela morria, porque vivia e vivia porque morria; pois não podia
morrer, porque morreu viva. Cristo podia morrer segundo o corpo; Ela, porém,
não podia morrer segundo a alma".
No
alto do Gólgota o seu heroísmo era tal que, na opinião de Santo Ambrósio e
Anselmo, para realizar o plano do Pai Eterno, Ela estava disposta a executar o
seu Filho, se não houvesse algoz.
Santo Afonso não
avalia a vertiginosa altura daquele amor, apenas pela sua maternidade
universal, embora não possa ser superada em grandeza e profundidade, por ninguém
dentro de seus limites de criatura humana. Ele vai além. Dirige o olhar para
cima, a Deus; e para baixo, ao seu amor a Deus. Como não houve e nem existirá
criatura alguma – conclui ele – que amou e possa amar a Deus, mais do que
Maria, também não há e nem poderá haver jamais alguém que seja capaz de amar os
homens, como Ela.
Pedro Damião dá a
este pensamento o último e mais profundo sentido, ao explicar: "Sei, ó
Mulher, que és a mais bondosa e nos ama com amor invencível, porque teu Deus
nos amou em ti e por ti, com o amor mais intenso possível". Porque amor só
se paga com amor, queremos esforçar-nos para retribuir tal amor.
Após
estas considerações, não nos é difícil concordar com o elogio tecido a Maria
pelos grandes e pequenos pregadores marianos de todos os séculos. Quem — assim
jubilam eles com o coração agradecido — quem, ó Mulher bendita, foi capaz de
calcular a extensão, a grandeza, a sublimidade e a profundidade do teu amor? —
Sua extensão: Ela auxilia a todos os que a invocam. Sua grandeza: Ela preenche
o universo. Sua sublimidade: Ela atinge as raias da cidade de Deus. Sua
profundidade: desce até aquele que dormita na obscuridade e o chama para a luz.
Como
para o Pai Eterno, também para Ela valem as palavras: depois de ter-nos dado
seu Filho, a maior e mais valiosa dádiva, por que, nele, não poderia ter-nos
dado, também o que é menos valioso que o Filho de Deus? Não nos concedeu
Maria, ao pé da cruz, semelhante sacrifício de amor? Que deixou de dar-nos do
que podia ter-nos dado? Sua bondade e misericórdia conhecem somente um limite:
o seu porder Pois Ela é a Onipotência Suplicante. Seu amor para conosco é
"forte como a morte", isto é, para Ela não existe obstáculo
intransponível. Nem tempo, nem separação, nem ingratidão ou morte impedem a
corrente incomensurável do seu amor.
Muitas vezes
experimentamos como o amor humano, com o tempo, se esfria e busca variações —
assemelha-se ao pássaro que salta de uma haste à outra. Em Maria, isto não
acontece. Seu amor é profundo, fiel e eterno, semelhante ao amor do próprio
Deus. O amor terreno, quando não é autêntico, fenece facilmente com a distância
e a separação. O amor de Maria para conosco não conhece tal fraqueza. Ela está
continuamente próxima de nós. Vê-nos e nos ama em Deus e por causa dele, o qual
permanece eternamente o mesmo. O amor terreno termina logo, quando pago com
ingratidão. O amor de Maria, ao contrário, é altruísta e puro — não se perturba
pela ingratidão. Nem a morte nos separa dela. Maria é e permanece nossa Mãe.
Acompanha-nos amorosamente perante o tribunal de Deus, para defender-nos e
conduzir-nos, felizes, ao céu, ou para estar ao nosso lado, auxiliando-nos e
consolando-nos no purgatório.
Este
é o coração que nos é doado pela Aliança de Amor.
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Agradeço à amiga e leitora do blog pelo empréstimo do livro para que ele pudesse ser digitalizado e divulgado. É nosso desejo que Nossa Senhora a recompense muito e sempre!
6 comentários:
Continue com esse lindo trabalho de evangelização por meio de disponibilização de livros raros. Deus te abençoe grandemente.
Amen!
Agradeço suas palavras!
Saudações!
Boa noite!
Salve Maria Santíssima
Tentei baixar mas o link está quebrado.
Deus os abençoe
Salve Maria,
Informo-lhe que verifiquei e não há problemas com este link,
Saudações!
MUITO BOM SITE
Adorei!!!
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Em breve lhe darei um retorno, porém se o seu comentário for ofensivo infelizmente terá que ser ignorado, pois aqui não é local para ataques aos ensinamentos seculares da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Aqui o leitor pode estudar para conhecer a beleza e sabedoria do Catolicismo. Salve Maria!